Rei Artur soubera, pola boca
mesturadora de Galvão, que Guenevra lhe era infidel com Lanzarote. Polo passeio dos grandes fieitos,
beirado de dálias, avanzava senlheiro o monarca de coração mancado. Toda a dor
do mundo trabava-lhe nas gorjas com a fereza do lince. Ao final do parque, com
aceno torvo, a torre sombriza da Dorosa garda erguia os seus adarves contra um
céu de chumbo em que girava um exército de pequenos diabos ou víncaros
chilrantes. Nobre o rosto descomposto, globos de marrom e azul baixo da olhada,
Rei Artur chorou com bagulhas de fogo e o gemer encanecia-lhe de cuspe os
bigodes e a barba. Guenevra, Lanzarote! Ela fora a benamada, a única, a gaivota
do mencer chuvento, a pel cegadora de neve ardorosa, a segurança pétrea dos
estados, o açafrão dos jantares de cerimónia, cendal de Pérsia na fronte
queimada dos estios, noites de brama dos veados beira do pavilhão de caça a
amatar os outros brados de amor de bronze senhorial entre dosseis epeles de
lontra, e o corpo nu dela a renovar-se no leito com o movimento incessante e
diverso das fervenças.