Saturday 12 May 2012

AMOR DE ARTUR - Xosé Luis Méndez Ferrín


Rei Artur soubera, pola boca mesturadora de Galvão, que Guenevra lhe era infidel com Lanzarote. Polo passeio dos grandes fieitos, beirado de dálias, avanzava senlheiro o monarca de coração mancado. Toda a dor do mundo trabava-lhe nas gorjas com a fereza do lince. Ao final do parque, com aceno torvo, a torre sombriza da Dorosa garda erguia os seus adarves contra um céu de chumbo em que girava um exército de pequenos diabos ou víncaros chilrantes. Nobre o rosto descomposto, globos de marrom e azul baixo da olhada, Rei Artur chorou com bagulhas de fogo e o gemer encanecia-lhe de cuspe os bigodes e a barba. Guenevra, Lanzarote! Ela fora a benamada, a única, a gaivota do mencer chuvento, a pel cegadora de neve ardorosa, a segurança pétrea dos estados, o açafrão dos jantares de cerimónia, cendal de Pérsia na fronte queimada dos estios, noites de brama dos veados beira do pavilhão de caça a amatar os outros brados de amor de bronze senhorial entre dosseis epeles de lontra, e o corpo nu dela a renovar-se no leito com o movimento incessante e diverso das fervenças.