Sunday 29 January 2012

MEMORIAS DUN NENO LABREGO (I) — EU SON ...

Leitura em galego do primeiro capítulo da obra de Xosé Neira Vilas.

"Eu son ... Balbino. Um rapaz da aldea. Coma quen dis, um ninguén. E ademais, pobre. Porque da aldea tamén é Manolito, e non hai quem lle tusa, a pesares do que lle aconteceu por causa miña."

Monday 2 January 2012

GALEGO, PORTUGUÊS, BRASILEIRO

Ouçamos como soa o galego, confrontado com o português e o brasileiro, a partir da leitura num texto literário português, um anaquinho dum dos "Novos contos da montanha", do trasmontano Miguel Torga.


Leitura do texto em português europeu:


Leitura do texto em português do Brasil:


Leitura do texto em (português europeu?) galego:



Eis o texto original lido:

O tempo em São Cristóvão anda devagar. As terras são cascalho puro, de maneira que é preciso dar prazo às raízes para roerem o granito até fazerem de uma areia um grão de cevada ou de centeio. Um ano, ali, são trezentos e sessenta e cico dias bem medidos. E as pessoas que lá moram, afeitas a horas longas, têm uma paciência de relojoeiro, cheia de mil cálculos e ponderações. Exactamente como nas leiras, onde a gente vê semanas a fio o mesmo pé de milho parado, meditativo, enigmático, a aloirar encobertamente a sua espiga, assim nos homens mais pasmados, mais lentos e mais metidos consigo, anda às vezes uma resolução secreta a criar e a madurecer. E saem obras tão perfeitas destas meditações, tão acabadas na concepção e na forma, que só o dedo da providência, porque aponta do céu, é capaz de lhes evidenciar os defeitos de fabrico. Mas mesmo assim são às vezes precisos anos para que Deus descubra a fenda do cântaro. Tal é a perfeição dos artífices de São Cristovão!

No caso do tio do Artur, a façanha foi de pura prestidigitação. Na altura exacta em que o rapaz, trabalhador e zeloso como sempre, murava o lameiro da ribeira, o velho sumiu-se como por encanto. Viram-no à noitinha ir buscar a jumenta ao monte da relva e trazer-lhe depois feno do palheiro da Chã, mas daí por diante os seus passos apagaram-se sem deixar rasto. Essa noite, embora de Agosto, foi escura e comprida, a condizer com a manha e a perseverança do lugarejo. E nela nem se ouviram gemidos, nem passos suspeitos, nem uivo de cão, nem pio de coruja. Nada. Ao cantar do galo, quando a aldeia acordou, havia no ambiente a mesma calma serenidade do dia anterior. As mulheres acenderam o lume e fizeram o caldo, os pedreiros, na obra do Artur, assentaram os alicerces do novo troço de parede, e só tarde, quase à hora do almoço, é que a Jerica, cansada do esquecimento em que o dono a deixara na loja, deu de lá um impaciente sinal de enfado. E foi através desse aviso animal que São Cristóvão compreendeu que o Bento Caniço, habitualmente tão madrugador, não acordara ainda e que o melhor seria bater-lhe à porta.